Alfa Pendular (No land)




Cadmium Red Light (Liquitex), Cadmium Red Medium (Liquitex), Titanium White (A>2), Ivory Blank (Liquitex), Cobalt Blue (W&N — Finity), Ultramarine Blue (W&N — Finity), French Ultramarine Blue (Liquitex) e Alizarin Crimson Hue Permanent (Liquitex) sobre tela de algodão, montada sobre estrutura de MDF e pinho; 25,5 x 368 cm

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O comboio em movimento é uma das melhores metáforas da relação complexa que estabelecemos com o espaço e o tempo. Ele oferece-nos a possibilidade de escolher entre a imobilidade relativa e o movimento, se passamos pela paisagem ou se a deixamos passar por nós.
Durante as muitas viagens que faço entre o Porto e Santarém, o comboio alfa pendular cruza-se frequentemente com aquele em que circulo; o “encontro” entre os dois comboios acontece a alta velocidade e tem a duração de escassos segundos. Em muitos destes momentos, sinto que a paisagem é substituída pelas linhas horizontais do rápido trem que avança em sentido contrário e que todo o movimento deixa de existir. Dentro e fora da carruagem as linhas de cor solidificam-se e aparecem estáticas perante o meu olhar. Subitamente, encontro-me especado numa sala de exposições a observar uma das pinturas panorâmicas de Keneth Noland.
O subtítulo deste trabalho, No land, cita o nome do pintor americano e remete simultaneamente para um esquecimento da paisagem e de todo o contexto espacial. Um casual instante do quotidiano, com a duração de pouco mais de dois segundos parece congelar e, paradoxalmente, converter-se num momento de contemplação de pura pintura abstracta.